.
Para
Carla Diacov e Larca Vódica . .
. .
Saiu apressada da
casca,
bem antes da mãe
findar o choco
e do pai
cacarejar seus advérbios,
a menina.
Já engatinhava
sem meias palavras
e ciscava com os
joelhos a terra
e o mar e o céu e
o tudo e o caos,
a menina.
“Nunca que vou
botar um ovo
branquelo ou beje ou avermelhado” – –
decidiu. – – “Ovos meus serão todos
de ouro, ouro do bom, sem impureza
que não seja
clorofila, cedilhas e
borboletas bêbadas xingando a mãe
dos órfãos” – – ô tinhosa, a menina!
E saiu ela pelas
ruas a catar
moedas e pauzinhos
de picolé,
conchas e guimbas
de cigarro,
tartarugas, cobras
e lagartos,
hidrantes, clipes
e astrolábios,
meninos a empinar carros-pipas,
freiras plantando bananeira
e pensamentos libidinosos
na peruca de corocas e carecas – –
agora, sim, prontinha
para botar
toneladas de ovos de ouro..
.